O protagonismo da Ortodontia contemporânea na Odontologia integrada

O protagonismo da Ortodontia contemporânea na Odontologia integrada

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A integração das especialidades, mesmo que de forma discreta, sempre foi uma realidade na Odontologia. Veja aqui como elas se complementam. 

Confeccionar uma coroa sobre um dente, por exemplo, necessitava de intervenção conjunta da Periodontia e da Endodontia, na maioria das vezes. É muito comum a Ortodontia ficar fora deste cenário de integração entre as especialidades sob o seguinte argumento: “O paciente não aceita realizar o tratamento ortodôntico”. Assim, problemas como apinhamentos, extrusões, dentes inclinados ou angulados, dentre muitas outras situações, eram negligenciados nos planejamentos e tratados por meio de desgastes por vezes acompanhados de procedimento endodôntico, aumentando as limitações do processo reabilitador e, em especial, o custo biológico.

Em contrapartida, a Ortodontia promovia, por meio de mecânicas complexas e demoradas, por exemplo, a mesialização de um segundo molar angulado devido à ausência do primeiro molar, situação em que a simples verticalização do segundo molar e a instalação de um implante osseointegrado na região do primeiro molar seria a opção mais lógica e viável. Soma-se a isso os casos de compensação de deformidades esqueléticas, que extrapolam os limites da funcionalidade e comprometem os resultados dos tratamentos nos aspectos estéticos, funcionais e de estabilidade. Estas situações também são justificadas com o argumento de que o paciente se negou a realizar o tratamento ideal, seja por meio de reabilitação com implantes ou associada à cirurgia ortognática.

A elevada demanda de pacientes adultos nos consultórios de Ortodontia tornou as abordagens transdisciplinares¹ e integradas uma realidade cada vez mais frequente. Esta situação criou a necessidade de novos métodos de diagnósticos e mecânicas específicas². Destaque especial para a utilização rotineira de protocolos de diagnósticos fundamentados na tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) e das mecânicas associadas à ancoragem esquelética, utilizando os dispositivos temporários de ancoragem (DATs) extra-alveolares, convencionais e as miniplacas, ou ainda nos próprios implantes instalados na fase inicial do tratamento, após um planejamento integrado com a Ortodontia.

A superioridade das informações fornecidas pelos exames tomográficos em comparação com os exames radiográficos convencionais é um assunto amplamente discutido na literatura (Figuras 1)³ . As imagens tomográficas permitem o diagnóstico e a localização precisa das assimetrias, avaliação das ATMs, da forma radicular (e mensurações da reabsorção), das espessuras ósseas para movimentações dentárias (evitando deiscências e fenestrações), da relação entre a crista alveolar e os dentes, além de permitir melhor previsibilidade no planejamento para instalação das ancoragens esqueléticas4.

Além do diagnóstico, a TCFC pode influenciar positivamente no planejamento dos tratamentos integrados. A calibração dos arquivos DICOM (arquivo da tomografia) com os arquivos STL (arquivo do escaneamento intraoral) e com os arquivos das fotografias ou escaneamento facial tem possibilitado planejamentos virtuais reversos por meio de softwares específicos. Estes programas estão revolucionando a integração da Ortodontia com a Reabilitação Oral e com a cirurgia ortognática, possibilitando a impressão de guias cirúrgicos virtuais em 3D, tornando o procedimento cirúrgico real mais preciso. Por meio deste planejamento, é possível responder a um questionamento muito frequente em um caso ortodôntico-reabilitador: qual o momento ideal e em qual posição o implante deve ser instalado? (Figuras 2).

No que diz respeito à mecânica ortodôntica, é fácil entender as possibilidades permitidas com o surgimento da ancoragem esquelética, sobretudo quando as miniplacas são os dispositivos de escolha, fornecendo uma ancoragem ampliada com benefícios implícitos pelo processo da remodelação óssea. As miniplacas têm se destacado com maior índice de sucesso, estabilidade e confiabilidade. Sua constituição de titânio puro ou liga de titânio, fixada em osso cortical com dois ou três parafusos, garante maior retenção mecânica, justificando sua maior estabilidade frente a outros dispositivos temporários de ancoragem (Figuras 3 e 4)1-2, 4-5.

Compreender a complexidade dos tratamentos odontológicos e suas implicações na saúde geral dos pacientes é uma possibilidade cada vez mais palpável com o avanço das técnicas, dos materiais e das novas tecnologias. Este cenário tem levado a Odontologia a níveis de excelência compatíveis com as exigências dos casos e com as expectativas de pacientes cada vez mais críticos e bem informados. É importante reconhecer as limitações e entender que um trabalho em equipe é fundamental para alcançar melhores resultados com o máximo de preservação das estruturas naturais6 . Assim, a Ortodontia contemporânea tem se tornado indispensável na maioria dos casos de reabilitação oral em que se deseja a excelência nos resultados sob os aspectos estéticos, funcionais, de previsibilidade e de estabilidade.

Referências

1. Consolaro A. Miniplates and mini-implants: bone remodeling as their biological foundation. Dental Press J Orthod 2015;20(6):16-31.

2. Sousa RLS, Silva E, Meloti F, Cardoso MA. Retratamento ortodôntico de paciente adulto com má oclusão de Classe II associado à ancoragem esquelética com miniplacas. Rev Clín Ortod Dental Press 2019;18(5):131-43.

3. Sousa RLS, Silva E, Portes MIP, Meloti F, Cardoso MA. Miniplate anchorage for correction of sleletal anterior open bite in an adult. J Clin Orthod 2021;55(3):175-84.

4. Consolaro A. Os mini-implantes e miniplacas geram ancoragem subabsoluta e absoluta. Dental Press J Orthod 2014;19(3):20-3.

5. Silva E, Meloti F, Pinho S, Cardoso MA, Consolora A. Biomecânica com miniplacas. Rev Clin Ortod Dental Press 2018;17(3):17-34.

6. Hiramatsu D, Cardoso MA. Odontologia estética com laminados cerâmicos. OrtodontiaSPO 2018;51(2):168-71.