Uso de alinhadores em casos com extração

Uso de alinhadores em casos com extração

Compartilhar

Há um crescimento significativo de casos tratados com alinhadores estéticos removíveis, mas ainda assim as situações complexas são um desafio para quem utiliza esse sistema.

A seguir, serão apresentadas as vantagens e desvantagens do tratamento com extração dental utilizando alinhadores ortodônticos removíveis, abrangendo tanto as soluções de grandes fabricantes quanto in-house.

Considerações clínicas

Na literatura, há vários trabalhos sobre a efi ciência do movimento dental com alinhadores ortodônticos. Porém, existem poucas publicações que abordam o fechamento de espaço nos casos de extração. Assim como nos aparelhos fixos, sejam posicionados por vestibular ou lingual, a ancoragem e o controle de torque dos incisivos são fundamentais para a qualidade da finalização do tratamento ortodôntico em que é necessário o fechamento de espaços.

Uma das vantagens do tratamento com alinhadores utilizando programas 3D para o planejamento do movimento dental (setup digital) é o controle da posição final dos dentes, considerando que o ortodontista pode definir a quantidade de retração e mesialização dos elementos dentais adjacentes ao espaço da extração, assim como a angulação e o torque ideal, de acordo com os objetivos de tratamento. Porém, devemos considerar diversos fatores que eventualmente não são visualizados no planejamento virtual, como as propriedades mecânicas dos alinhadores e a resposta individual de cada caso, de acordo com suas características – idade do paciente, condição periodontal, inclinação e angulação do dente, grau de apinhamento, volume radicular e velocidade do movimento dental.

Desta forma, ao escolher o alinhador removível como opção de tratamento para o fechamento de espaços, o ortodontista deve estar atento às eventuais dificuldades que também são visualizadas no tratamento com aparelho fixo, como perda de ancoragem, divergência de raízes, verticalização e extrusão dos incisivos.

O ortodontista deve captar com clareza a queixa principal do paciente, as expectativas de resultado, suas percepções sobre o tratamento, além de conhecer um pouco sobre sua rotina pessoal e profissional. Juntamente à coleta de informações clínicas e ao estudo dos exames complementares, o profissional estará apto a definir o melhor plano de tratamento e o melhor aparelho para a resolução do caso, aumentado consideravelmente a chance de alcançar o resultado almejado ao final da terapia.

Antes de iniciar o tratamento, é fundamental explicar as vantagens e desvantagens de cada planejamento (se houver mais de uma opção), as características de cada aparelho (fixo ou alinhadores), mostrar fotos dos acessórios que poderão ser utilizados (botões, ganchos, elásticos, mini-implantes) e deixar claras as eventuais limitações do caso e necessidade da atuação de outras especialidades antes, durante ou depois do tratamento ortodôntico. Este cuidado com a informação é maior quando o profissional e o paciente decidem utilizar aparelhos removíveis, como é o caso dos alinhadores estéticos, pois a colaboração é essencial para o sucesso do tratamento ortodôntico.

Quanto à indicação do tipo de aparelho, primeiro deve-se considerar a severidade do caso, o conhecimento ortodôntico, a experiência profissional e a habilidade do ortodontista com a ferramenta definida. Por isso, é preciso estar atento às novas técnicas e tecnologias, procurando sempre o desenvolvimento na especialidade, respeitando a curva natural de aprendizado e os princípios básicos da Ortodontia.

Para aqueles que ainda estão inseguros em tratar casos de extração com alinhadores ortodônticos, recomenda-se começar preferencialmente com pacientes que apresentam bastante apinhamento ou inclinação vestibular acentuada da bateria anterior. Nestes casos, a verticalização dos incisivos/caninos e o alinhamento dentário irão ocupar grande parte do espaço criado pela remoção do dente, necessitando de pouca retração dos elementos anteriores e minimizando os indesejados efeitos colaterais. 

Previsibilidade no tratamento com extração

O conhecimento biomecânico do tratamento ortodôntico associado às características do aparelho determinará em grande parte a previsibilidade da movimentação, pois propiciará o planejamento do melhor sistema de forças a ser empregado, repercutindo em uma maior eficiência terapêutica.

Alguns pontos devem ser considerados na previsibilidade do tratamento com extração, como a idade do paciente, o tamanho da coroa clínica (quanto maior for a área de contato do plástico com o dente, melhor será o controle da movimentação), a presença e o design dos attachments, características do material do alinhador e utilização de mecânicas auxiliares, como botões e elásticos intermaxilares no controle da ancoragem, power arms para aplicação de força mais próxima ao centro de resistência do dente, além dos benefícios consagrados da aplicação de força apoiada em miniparafusos ortodônticos.

Alguns pacientes ou profissionais podem criticar a indicação dos acessórios no tratamento com alinhadores, questionando uma das grandes vantagens da técnica, que é a estética do aparelho. Por este motivo, antes do início do tratamento, é importante esclarecer ao paciente sobre as eventuais limitações do sistema e a necessidade de acessórios para alcançar os objetivos traçados. Mais importante do que a ferramenta é o controle da movimentação, minimizar os efeitos colaterais e obter resultados mais agradáveis e estáveis.

Caso clínico 1

Paciente do sexo masculino, com 46 anos de idade, procurou tratamento ortodôntico apresentando boa saúde sistêmica e boa higiene bucal, com a seguinte queixa: “Meus dentes estão tortos e gostaria de melhorar meu sorriso”. Ao exame clínico intrabucal, verificou-se a presença de apinhamento anterior superior e inferior acentuado, boa relação posterior em Classe I de Angle, caninos superiores em infraoclusão, retração gengival nos incisivos inferiores e curva de Spee inferior acentuada.

Na avaliação estética do sorriso, observou-se um desvio da linha média superior para o lado esquerdo e curva do sorriso não satisfatória. O exame radiográfico e cefalométrico mostrou nível ósseo um pouco diminuído no quadrante 1, discreta reabsorção de cristas ósseas alveolares e inclinação lingual dos incisivos superiores e inferiores.

Os objetivos do tratamento foram: alinhamento e nivelamento dos dentes com contatos proximais adequados, aplainamento da curva de Spee inferior, alcançar relação canina em Classe I, manutenção da relação molar inicial e melhora da curva do sorriso. Por questões estéticas, o paciente optou pelos alinhadores removíveis. Foram propostas duas alternativas para a correção do apinhamento: 1) expansão dental com vestibularização dos incisivos e desgastes interproximais; 2) alinhamento e nivelamento com extração de quatro pré-molares. Uma das vantagens de realizar o planejamento virtual é a possibilidade de simular diferentes alternativas de tratamento e avaliar a posição final do dente em cada opção. Após apresentar ao paciente os dois planejamentos realizados no programa ClinCheck (Align Technology) e discutir as vantagens e desvantagens de cada um, decidiu-se realizar o tratamento com extrações dentais dos pré-molares e terceiros molares.

Após o planejamento virtual, iniciou-se o tratamento utilizando alinhadores removíveis do sistema Invisalign. Foram programadas as extrações dentais apenas depois da instalação dos aparelhos (estágio 3), para evitar movimentação dentária indesejada entre a realização das exodontias e o início do tratamento – o que poderia dificultar a adaptação dos aparelhos. Outra razão para esta decisão seria aproveitar o fenômeno da aceleração regional (RAP) para favorecer a movimentação ortodôntica nos estágios iniciais. Em razão da angulação mesial das coroas dos caninos, apenas estes dentes foram movimentados inicialmente, favorecendo o controle da ancoragem posterior e evitando colisões entre os dentes anteriores.

Após a melhora no posicionamento dos caninos, iniciou-se o alinhamento dos dentes anteriores e, na sequência, a retração do segmento anterior para o fechamento dos espaços. Foram utilizados os recursos da geração 6 do sistema Invisalign, que permitem maior previsibilidade no fechamento dos espaços em razão do melhor controle de ancoragem e da posição dos dentes anteriores.

Com os recursos Invisalign G6, os alinhadores liberam forças para executar um contramovimento na região dos segundos pré-molares e molares, para favorecer a ancoragem do segmento posterior, além de ativações para forçar a intrusão e o torque vestibular de coroa dos incisivos durante a retração. Depois do fechamento de espaços, realizou-se outro escaneamento intraoral para a confecção de um novo conjunto de alinhadores para pequenos ajustes de toques, angulações e inclinações dos dentes para um melhor engrenamento dos dentes.

Após a finalização do caso, observou-se que os objetivos do tratamento propostos foram alcançados dentro de um prazo considerado adequado e com poucos efeitos colaterais, eventualmente visualizados nos casos de quatro extrações. Isto se deve à colaboração do paciente, ao planejamento individualizado minucioso com o auxílio da ferramenta digital (software 3D) e também à aplicação dos conceitos biomecânicos traduzidos da Ortodontia convencional com aparelho fixo para os alinhadores. O tempo total de tratamento foi de aproximadamente 19 meses e a troca dos alinhadores variou entre nove e 14 dias.

Caso clínico 2

Paciente do sexo feminino, com 38 anos de idade, procurou avaliação ortodôntica porque já tinha realizado tratamento prévio e relatou que os dentes estavam se movimentando. Ao exame clínico intrabucal, verificou-se a presença de apinhamento superior e inferior, inclinação acentuada dos incisivos superiores e inferiores, relação molar em Classe I de Angle e caninos inferiores com angulação mesial de coroa.

Na avaliação estética do sorriso, observou-se um desvio da linha média inferior para o lado esquerdo. No exame radiográfico, observou-se retrusão da mandíbula e perda óssea vestibular em razão da proclinação acentuada dos incisivos inferiores. Os objetivos do tratamento são: alinhamento e nivelamento dos dentes, verticalização dos incisivos superiores e inferiores, e melhora das relações estáticas e dinâmicas da oclusão, proporcionando melhor distribuição de forças e proteção do periodonto.

A evolução do tratamento deste caso assemelha-se muito ao caso anterior, pois, apesar de não visualizarmos um apinhamento grande na região anterior, ele estava mascarado pela inclinação exagerada dos incisivos para vestibular. O fechamento do espaço ocorreu inicialmente apenas pela distalização dos caninos e, posteriormente, pela desinclinação dos incisivos. Neste caso, optou-se por deixar um espaço na mesial dos caninos para aumentar a área de contato do “plástico” com os dentes, favorecendo o controle da movimentação. No planejamento virtual, utilizou-se também um padrão de estagiamento conhecido como frog pattern, que movimentou de maneira alternada e sequencial os caninos e dentes anteriores separadamente.

O tratamento foi realizado em 26 meses, sendo que na primeira sequência de alinhadores foram planejadas 63 placas no arco inferior e 73 no arco superior. Uma nova sequência de seis alinhadores no arco superior e dez no inferior foi indicada para pequenos ajustes nos dentes posteriores e para estabelecer pontos de contato proximais rígidos. O número elevado de placas deu-se em razão das alterações previamente observadas no periodonto e da necessidade de realizar movimentos lentos e controlados. Independentemente do aparelho escolhido pelo ortodontista, o comprometimento do  paciente com o tratamento é essencial para o sucesso.  No caso dos alinhadores removíveis, problemas como a  falta de adaptação pelo número de horas insuficientes de  uso interferem na evolução da movimentação dental e,  em alguns casos, podem ser observados movimentos em  sentidos contrários e indesejados. Situações como esta  necessitam, muitas vezes, de uma nova moldagem ou  escaneamento das arcadas para replanejamento virtual  e confecção de uma nova sequência de alinhadores,  interferindo na qualidade do resultado, no aumento do  tempo de tratamento e na consequente frustração do  ortodontista. Quanto mais complexo e demorado for  o caso, maior deve ser o cuidado no detalhamento dos  movimentos a serem realizados e no monitoramento  durante o tratamento ativo.

O poder do in-house: é possível tratar casos com extrações?

É preciso desvendar alguns paradigmas sobre o tratamento ortodôntico com alinhadores in-house, também conhecidos como in-office. O objetivo é mostrar, de maneira lógica e objetiva, como ser mais eficiente em busca de melhores resultados, com tendência de tratamentos mais rápidos (menor número de alinhadores) e com menos chance de placas adicionais (ou, quando forem necessárias, que sejam poucas).

Por sorte do destino ou por uma inquietude natural, eu estava atento à evolução tecnológica no momento certo. Quando as impressoras 3D ainda custavam mais de R$ 350 mil, acompanhei o nascimento de uma start-up que lançaria a primeira impressora 3D de alta resolução e baixo custo do mundo. Não tive dúvidas, em 2015 viajei aos Estados Unidos para buscar minha primeira Formlabs. Naquele momento, já havia scanners e softwares de planejamento em constante evolução, porém mais consolidados, e foi justamente a impressão 3D que gerou toda essa percepção e mudança do mercado ortodôntico. Hoje, com a China entrando no jogo, a democratização do uso dessa tecnologia avançou e teve mais aceitação. A aquisição está mais fácil e houve a consequente proliferação da tendência de personalização máxima de um alinhador invisível.

Vemos cada vez mais ortodontistas consagrados nacional e internacionalmente começando a utilizar essa importante ferramenta, tornando seu trabalho mais independente e ilimitado (personalizado).

Características e vantagens dos alinhadores in-house

As características mais marcantes dos alinhadores in-house são sua completa personalização e consequente acúmulo de percepções antes não vistas, gerando melhor compreensão do todo e de como os alinhadores funcionam. Costumo fazer uma analogia comparando à visita em uma cidade pela primeira vez. Ao sair às ruas, pode-se usar um serviço de motorista por aplicativo e chegar ao destino desejado ou então fazer o trajeto por conta própria (de bicicleta ou caminhando, tendo que saber exatamente quais ruas trilhar até o objetivo). Claramente, este último é mais trabalhoso, porém tem suas vantagens porque o turista vive intensamente a cidade e a conhece muito melhor, tornando a viagem inesquecível. Por outro lado, ao usar o serviço de aplicativo, ele é apenas conduzido e fica dependente do carro e do motorista.

Outra grande vantagem é a liberdade dos alinhadores in-house. Pode ser mais rápido, prático e assertivo fazer todo o planejamento ou, ao menos, entregar essa função para um ortodontista experiente em tratamentos com alinhadores. É uma ilusão o ortodontista acreditar que possui controle sobre o planejamento/tratamento apenas tendo a chance de movimentar a posição final dos dentes em um software de visualização. O controle absoluto se dá no estudo e na segmentação dos movimentos, ou seja, o mais importante é definir quando e como cada um dos dentes vai se movimentar.

Dessa maneira, o profissional, ao invés de apenas reposicionar um dente no software, deve ter a capacidade de expressar seu desejo, informando em qual estágio cada dente deve começar e terminar seu movimento, além do tipo de movimento que cada dente deve realizar. Ao total, são seis movimentos possíveis (TIP, rotação, torque, vestibular-lingual, extrusão-intrusão e mesiodistal) que, em conjunto, reposicionam os dentes em qualquer plano do espaço. Esse desejo pode ser expressado de duas maneiras: orientando um planning center de uma empresa ou através de softwares de planejamentos. Quanto melhor for o programa utilizado, mais liberdade, autonomia e possibilidades estarão disponíveis para solucionar os mais diversos tipos de má-oclusão.

Outra vantagem é o aprendizado. Para fabricar os alinhadores, existe um passo a passo – separado em 28 etapas – que vai desde a importação dos modelos virtuais para o software, passando pelo troquelamento virtual, setup, escolha dos attachments, planejamento reverso até a exportação dos modelos de transição, impressão 3D, escolha dos plásticos, estampagem, recortes e acabamentos. Entender cada uma delas certamente gera mais confiança para encarar os tratamentos e também apontar uma possível falha e como corrigi-la. Fica muito fácil fazer alinhadores de recall para recuperar um movimento perdido ou fabricar alinhadores adicionais com extrema agilidade.

Alinhadores in-office também oferecem mais controle, sendo possível decidir como realizar os estagiamentos e definir a quantidade de movimento por alinhador. Ganha-se também em versatilidade, com a fabricação dos alinhadores por fases nos pacientes em crescimento ou então pela combinação com tratamentos híbridos e aparatos fixos para movimentos menos responsivos.

Por fim, a valorização do ortodontista tem um importante papel nesse modelo de trabalho. Criar um produto personalizado com a validação e assinatura do profissional gera reconhecimento. Além disso, os custos cada vez mais acessíveis dos insumos para produção de alinhadores de qualidade aumentam os lucros do consultório.

Indicações e condução de uso

É claro que as indicações devem ser respeitadas, mas alinhadores in-house são limitados primordialmente por dois fatores: o software utilizado e o conhecimento do ortodontista. Tendo isso, tudo que uma grande empresa de alinhadores faz é capaz de ser replicado virtualmente nos in-house. A partir daí, há outras variantes de produção, como tipos de impressoras 3D, plastificadoras, materiais e insumos.

Algumas questões devem ser observadas quanto à correta indicação e condução dos tratamentos, a fim de obter melhores resultados. A primeira delas diz respeito à dificuldade do caso. O mais importante é avaliar a dificuldade de cada movimento dentário, pois um caso simples pode ter um ou mais movimentos complexos; e um caso complexo pode conter apenas movimentos dentários simples. Parece confuso, mas no detalhamento dos movimentos dentários em um software de planejamento virtual de ponta essa visão fica mais clara.

Um exemplo: um caso simples de Classe I com os dentes bem engrenados e pequenos diastemas, em que apenas um canino inferior precisa de movimento de pêndulo radicular de 30º de angulação (Figuras 1 a 3). Esse movimento certamente não vai acontecer somente com as trocas sequenciais dos alinhadores, mesmo com attachments otimizados de controle de raiz. O ideal é lançar mão de mecânicas auxiliares, que sempre vão muito bem acompanhadas de mini-implantes.

E aí vem a segunda questão: o que vai fazer a diferença no resultado é a percepção do ortodontista, sabendo intervir na hora certa e com a mecânica auxiliar correta para que de fato o movimento planejado virtualmente aconteça. Apenas trocar as plaquinhas sequencialmente não garante que os movimentos aconteçam, e nem por isso devemos dizer que os alinhadores não funcionam. Aplicando esses conhecimentos na conduta clínica, certamente há mais eficiência e com menor chance de grandes refinamentos. Referindo a célebre frase “Insanidade é fazer o mesmo e esperar resultados diferentes”, quando notar alguma desadaptação do alinhador nos dentes ou quando perceber que a comparação da evolução clínica está aquém do planejamento virtual, não se deve ficar parado, ou pior, continuar fazendo o mesmo e esperando que um movimento mais complexo milagrosamente aconteça.

Outro exemplo seria tratar um caso considerado complexo, como o fechamento de espaço de uma extração, em que as coroas adjacentes ao dente extraído se movimentam mais do que a raiz (Figuras 4 a 9). Nessa situação, temos uma condição radicular pré-tratamento favorável, pois as raízes estão convergentes em relação ao espaço e as coroas tendem a se inclinar para o espaço da extração durante o fechamento. Certamente haverá uma quantidade maior de alinhadores do que no exemplo anterior, e visualmente pode parecer mais difícil. Porém, esses são considerados movimentos favoráveis para serem resolvidos com alinhadores. Dessa maneira, a chance de precisar de alinhadores adicionais diminui e aumenta a taxa de sucesso.

Outro fator importante é avaliar individualmente o movimento de cada dente, desde a posição inicial até a final. O próximo passo é visualizar os movimentos em grupo, que podem ser sinérgicos (favoráveis) ou sem harmonia (desfavoráveis). A sinergia acontece quando o movimento de um dente potencializa o movimento de outro (Figuras 10 e 11). A rotação no sentido horário do molar (dente 26) potencializa o movimento de expansão no sentido palatino-vestibular dos pré-molares (dentes 25 e 24). É como se os três dentes fossem um corpo único e o centro de rotação se desse na coroa do molar.

 

A importância do ortodontista

A movimentação dos dentes no software representa um sistema de forças que o plástico dos alinhadores vai exercer sobre a superfície dos dentes em cada estágio do tratamento, e não necessariamente a posição final dos dentes. Virtualmente, é possível fazer mais de um planejamento com estagiamentos diferentes, mas mantendo a mesma posição final dos dentes. O que pode confundir é mudar a posição final dos dentes, porém atingir as mesmas resultantes de forças e conseguir um resultado clínico semelhante.

Neste caso clínico, o planejamento foi realizado de maneira bem detalhada para atingir os resultados desejados. Contudo, suponhamos que após as extrações do 34 e 44 fizéssemos três diferentes planos para o fechamento dos espaços, levando em conta a mesma taxa de movimento por alinhador e sem estagiamentos. No primeiro, apenas os molares inferiores mesializando (Figura 12), no segundo apenas os anteriores inferiores retraindo (Figura 13), e no terceiro um pouco de cada (Figura 14). Na primeira e na segunda opção, encontramos a mesma quantidade de alinhadores: 21 na arcada inferior. Já na terceira opção, há 16 alinhadores para o fechamento dos espaços das extrações. 

O conceito de ancoragem em Ortodontia pode ser definido como a resistência do movimento dentário indesejado. Em uma ancoragem recíproca, em um caso de extração de primeiros pré-molares, pode-se dizer que os seis dentes do bloco posterior são mais resistentes ao movimento do que os seis dentes do bloco anterior (caninos e incisivos), devido ao volume radicular. Portanto, normalmente é aceito que os anteriores se movimentem distalmente ⅔ em direção ao espaço da extração, enquanto os molares mesializem ⅓ para o fechamento dos espaços (Figura 15).

Se no software forem mantidos os molares em posição e retrair apenas os dentes anteriores, não quer dizer que isso vai acontecer de fato na boca do paciente. Simplificadamente, o alinhador vai ter função semelhante a um elástico corrente e os dentes posteriores tenderão a mesializar ⅓ do espaço, enquanto os anteriores tendem a retrair ⅔ – não correspondendo ao que foi planejado no computador. A mesma lógica acontece se mantivermos os anteriores estáticos no setup virtual e mesializarmos apenas o segmento posterior.

Essas duas situações originaram a mesma quantidade de alinhadores e, possivelmente, o mesmo sistema de forças atuante sobre os dentes. Mas a opção três gerou menos alinhadores e isso quer dizer que a taxa de movimento por alinhador está camuflada e, consequentemente, maior, o que muitas vezes não é interessante para o tratamento, pois pode causar desadaptação do alinhador.

O in-office torna-se poderoso a partir do momento em que o ortodontista passa a entender a biomecânica e consegue transformar em realidade o sistema de forças advindas da mudança de posição dos dentes dentro dos softwares. Para que tudo isso seja possível, é necessário um software avançado. Dos pilares para a produção dos alinhadores, talvez o software utilizado aliado ao conhecimento do planejador seja o mais importante. Outros fatores fundamentais são: scanner, impressoras, material do alinhador, plastificadora, recortes e acabamentos.

Caso clínico 

Paciente do sexo masculino buscou tratamento ortodôntico porque estava descontente com seu sorriso, levemente invertido no arco superior e com projeção dos dentes inferiores (Figuras 1). Planejou-se a extração dos dentes 34 e 44 para corrigir a mordida cruzada através da retração dos dentes anteriores, mesialização do segmento posterior para obter um melhor engrenamento entre as arcadas e melhora do overjet e overbite, tendo como referência a exposição dos incisivos superiores no sorriso e, consequentemente, um perfil e sorriso mais harmônico.

Este caso foi planejado e tratado pelo Dr. Fábio Leal Braga, que terceirizou a produção dos alinhadores com a empresa Dental Aligner. Através do questionário preenchido pelo site, ele prescreveu toda a orientação e os objetivos do tratamento. Após aprovação do setup virtual, os alinhadores foram recebidos na clínica e deu-se início ao acompanhamento clínico.

Em uma visão mais detalhada do planejamento, percebe-se que os movimentos da arcada superior são sinérgicos, com mais evidência na extrusão e no alinhamento dos dentes anteriores. Por esse motivo, não foi realizado estagiamento, resultando em nove alinhadores (Figuras 2). Na arcada inferior, os movimentos foram divididos em quatro grandes momentos, totalizando 21 alinhadores. Inicialmente, do estágio 1 ao 5, enquanto os molares permanecem estáticos, visualiza-se maior movimentação dos caninos para distal e o início do alinhamento anterior (Figuras 3). Em seguida, nota-se que os molares sofrem leve mesialização, enquanto os caninos continuam a distalização e os incisivos sofrem uma pequena retração (Figuras 4). Do alinhador 11 ao 17, os caninos finalizam seu movimento e os dentes anteriores continuam a retração ao mesmo tempo em que os posteriores quase mesializam por completo (Figuras 5). Por fim, o movimento restante mais evidente é a finalização da retração dos quatro incisivos inferiores, com correção de desvio da linha mediana (Figuras 6).

As trocas dos alinhadores foram realizadas a cada 15 dias e o uso de elásticos Classe III inseridos nos alinhadores foi sugerido em determinados períodos do tratamento para a evolução clínica se equiparar ao setup virtual. A primeira sequência de alinhadores não atingiu por completo os objetivos do tratamento e durou aproximadamente dez meses. Uma nova sequência de seis alinhadores superiores e dez inferiores, sem alterações nos attachments, melhorou o engrenamento e fechou os espaços remanescentes, alcançando os objetivos do tratamento proposto (Figuras 7).

Conclusão

Com a crescente tendência do uso dos alinhadores in-house, certamente veremos em um futuro não muito distante cada vez mais casos complexos sendo bem finalizados com esta opção. E há uma série de vantagens, desde a liberdade e autonomia do ortodontista até a valorização profissional e o aumento do lucro financeiro.

Seus limites estão intimamente ligados ao software utilizado e ao conhecimento do ortodontista que está planejando e executando o tratamento, podendo ser utilizado em casos simples e complexos. O profissional pode prescrever ou administrar taxas de movimentos específicos por alinhador, estagiar os movimentos de acordo com seus conhecimentos, inserir attachments de formas e tamanhos ilimitados, prever virtualmente o resultado final em várias hipóteses e executar o tratamento conhecendo todos os detalhes do planejamento, sendo mais assertivo e eficiente na hora de agir com mecânicas auxiliares. Para tanto, exige tempo de estudo e dedicação, mas a recompensa é irrefutável.