Tratamentos híbridos na Ortodontia: a união faz a força
Imagem de tratamento híbrido realizado simultaneamente com alinhadores no arco dentário superior e aparelho fixo corretivo no arco inferior.

Tratamentos híbridos na Ortodontia: a união faz a força

Compartilhar

Abordamos a integração de sistemas na Ortodontia Estética, envolvendo alinhadores, mini-implantes e Ortodontia Lingual, em tratamentos híbridos na Ortodontia.

Nesta matéria

  • Terapias híbridas utilizando diferentes sistemas de aparelhos ortodônticos
  • Obtenção de resultados estéticos unindo alinhadores, mini-implantes e Ortodontia Lingual
  • Casos clínicos que ilustram o sucesso dos tratamentos híbridos na Ortodontia

A Ortodontia é composta por inúmeras subespecialidades que podem ser combinadas para obter melhores resultados no tratamento. Um exemplo é a possibilidade de trabalhar conjuntamente técnicas estéticas, como alinhadores, mini-implantes e braquete lingual. Para Adriano Marotta Araújo, mestre e doutor em Ortodontia, as terapias híbridas reduzem o tempo de tratamento e promovem uma boa estabilidade dos resultados. Isso porque, por exemplo, casos complexos realizados com alinhadores necessitam de várias fases de refinamento. “Uma forma de otimizar os resultados é se beneficiar da Ortodontia Digital e de softwares avançados de planejamento para guiar o tratamento de forma mais oportuna, simulando resultados e combinando diferentes aparelhos e técnicas”, afirma.

Na visão de Fábio Bezerra, doutor em Biotecnologia, nesse cenário tão cheio de oportunidades, o primeiro passo é manter a mente aberta. Assim, o profissional não pode se fechar exclusivamente em uma técnica, pois existem desafios clínicos que são melhor resolvidos variando ou associando subespecialidades.

Para integrar alinhadores, mini-implantes e braquetes linguais, é importante saber como cada um funciona separadamente, informando-se sobre avanços e tecnologias agregados a eles.

Alinhadores

Sabidamente, os alinhadores transparentes são considerados altamente estéticos e são os mais requisitados pelos pacientes, principalmente por serem quase imperceptíveis e removíveis – facilitando na hora da alimentação e higiene. Outro aspecto relevante é o quanto o processo de produção está cada vez mais digital – desde a captação das imagens dos arcos dentários, com modernos scanners intrabucais, até a incorporação de impressoras 3D e softwares para planejamento e simulação virtual dos tratamentos. “Um processo semelhante aconteceu com os aparelhos ortodônticos fixos, quando o design dos braquetes e dos fios sofreram grandes mudanças ao longo dos anos”, explica Araújo, ao prever que os alinhadores vão evoluir ainda mais.

No dia a dia clínico, os impactos da mudança estão sendo bem absorvidos pelos ortodontistas. Segundo ele, muitos estão adotando a técnica de maneira gradativa, sendo que algumas clínicas já produzem alinhadores in-house e combinam essa técnica a outras modalidades, o que aumenta a eficiência e reduz o tempo de tratamento.

Mini-implantes

A Ortodontia tem evoluído de maneira constante, sobretudo nas últimas duas décadas, por meio da introdução de novos métodos de diagnóstico e planos de tratamento, como o fluxo de trabalho digital. “Os novos dispositivos e recursos ortodônticos oferecem benefícios diretos para profissionais e pacientes, pois diminuem o tempo de tratamento e tornam a terapêutica mais confortável e previsível do ponto de vista clínico e científico”, avalia Bezerra.

Nesse contexto, os mini-implantes surgiram como dispositivos temporários de ancoragem para viabilizar ou facilitar movimentações dentárias que seriam complexas sem este tipo de recurso. “De maneira geral, independentemente da macrogeometria, os mini-implantes são dispositivos simples, com baixo custo e versáteis, pois podem ser instalados em diversas posições, a depender da necessidade do ponto de ancoragem definido pela mecânica ortodôntica”, detalha.

Ortodontia Lingual

É muito procurada pelos pacientes por ser um sistema de Ortodontia fixa altamente estético e que não exige tanta colaboração do paciente, como no caso dos alinhadores. Marcos Prieto, ortodontista e membro diretor da Associação Brasileira de Ortodontia Lingual (Abol), enumera outras vantagens, como o fato de não comprometer o esmalte externo e não expor o paciente a traumas em esportes ou quedas. Na técnica lingual, existem alguns sistemas para a fase de laboratório, sendo que o mais tradicional utiliza equipamentos específicos ou setups para a montagem do aparelho. Prieto explica que as faces linguais são customizadas para o controle dos torques, o que torna o sistema econômico, simples e garante a eficiência, permitindo sua aplicação a um maior número de pacientes.

A integração

Conhecimento, atualização e estudo de casos são determinantes para guiar o ortodontista à escolha correta do protocolo de tratamento. “As diferentes técnicas ortodônticas não são combinadas com mais frequência por falta de embasamento. Muitos profissionais que atuam com alinhadores, infelizmente, possuem limitada capacidade de realizar tratamentos híbridos na Ortodontia por falta de estímulo e conhecimento. O mesmo ocorre com especialistas em aparelho fixo, que têm preconceito em usar os alinhadores”, expõe Araújo, ao justificar os prejuízos de sempre investir em apenas uma técnica.

É importante ocasionalmente integrar aparelhos fixos, lingual ou vestibular em determinadas fases da terapia com alinhadores transparentes, e o mesmo se aplica para os mini-implantes ou miniplacas. Nos casos complexos, a associação da Ortodontia Lingual com mini-implantes torna a mecânica mais eficiente e assegura resultados dentro dos padrões de qualidade exigidos. “Naturalmente, como estes casos levam mais tempo, o tratamento completo com alinhadores corre o risco de não receber a devida colaboração do paciente, pelo fato de serem removíveis. Porém, são muito bem-vindos para pequenos detalhes de finalização, permitindo antecipar a liberação dos braquetes e oferecendo mais conforto ao paciente”, explica Prieto.

A técnica lingual proporciona inúmeras possibilidades de mecânica, por isso é uma ferramenta para resolver casos medianos ou complexos. “Para tratar Classe I de Angle com apinhamento suave, o uso de braquetes é dispensável desde que o ortodontista consiga motivar o paciente a utilizar adequadamente os alinhadores. Isso possibilita combinar técnicas, usando braquetes linguais na arcada superior e alinhadores na inferior, ou vice-versa”, detalha Prieto, ressaltando que a associação de mini-implantes é uma decisão diretamente relacionada à gravidade do caso.

Adriano Marotta Araújo destaca que o profissional deve sempre focar na solução do problema e não no tipo do aparelho. “Recomendo ferramentas visuais e digitais para apresentar ao paciente os tratamentos integrados com outras especialidades, ou até mesmo terapias ortodônticas exclusivas com diferentes aparelhos. Também aconselho evitar valorizar o resultado que as imagens geradas e simuladas pelo computador sugerem em detrimento do processo e dos meios que serão utilizados no tratamento”, opina. Antes de iniciar, é sempre importante informar ao paciente sobre quais serão as fases, estimativa de tempo e motivo de terem sido indicados diferentes aparelhos/acessórios.

Independentemente do caso ou do tratamento escolhido, o ortodontista deve sempre mostrar segurança, apresentar um planejamento convincente e casos similares que foram tratados com as mesmas ferramentas. “Além disso, os valores devem ser compatíveis com o poder aquisitivo do paciente. Nesse quesito, a técnica lingual é muito interessante por ser simples e de baixo custo ao profissional, bem como os alinhadores produzidos dentro do próprio consultório”, afirma Prieto.

A melhor maneira para explicitar o tratamento integrado, segundo Bezerra, é utilizar uma metodologia de comunicação que torne mais clara a exposição. “Nada é mais efetivo do que demonstrar para o paciente a necessidade de associação de técnicas utilizando as suas próprias fotografias ou modelo 3D para, por exemplo, explicar a necessidade de instalação de mini-implantes para a intrusão de molares ou para uma correção ortodôntica assimétrica. É fundamental que o paciente entenda a lógica do tratamento proposto pelo profissional para que os resultados possam ser alcançados”, afirma.

Isso simplifica o entendimento do paciente, e sua colaboração como parte integrante do tratamento passa a ser muito mais efetiva. “Essa dinâmica serve para todas as etapas, desde a colaboração com o uso de elásticos e alinhadores ou mesmo quanto à higiene oral”, finaliza Bezerra.

Imagens do Orthoi Dental Studio, cedidas por Adriano Marotta Araújo.

Retração anterior assimétrica utilizando mini-implantes ortodônticos (SIN Implant System, São Paulo, Brasil). Caso clínico realizado em parceria com Henrique Vilela (Salvador/BA).

Imagens cedidas por Fábio Bezerra.

Caso clínico

Paciente do sexo feminino, melanoderma, com 30 anos e nove meses de idade, apresentando as seguintes características: padrão mesofacial; face simétrica; bom vedamento labial; Classe I de Angle; suave atresia e sobremordida acentuada; incisivos superiores com alguns diastemas e inclinados para vestibular, e os inferiores inclinados para lingual e apinhados (Figuras 1).

O tratamento foi realizado com o sistema de braquetes linguais PSWb terceira geração, por um período de 28 meses. Os aparelhos foram instalados até os segundos molares, para facilitar a correção da mordida profunda, aplicando curva reversa no arco inferior e acentuando a curva de Spee no arco superior. Foram feitos levantes de mordida nos segundos molares superiores (Figuras 2).

A mecânica de alinhar e protruir os incisivos inferiores proporcionou a abertura de alguns espaços na região de pré-molares. Assim, para mesializar os dentes posteriores, os anteriores foram conjugados e empregou-se cadeias elásticas. Para ajudar neste propósito, foi solicitado à paciente que usasse elásticos de Classe II dos caninos superiores a botões vestibulares colados na mesial dos primeiros molares inferiores. Porém, devido à colaboração insuficiente da paciente, optou-se por mini-implantes instalados próximos aos caninos, na região do tórus, para uma tração mais efetiva dos molares (Figuras 3).

A mordida profunda foi corrigida, os espaços superiores foram fechados e os incisivos inferiores foram alinhados. A contenção inferior foi um 3-3 convencional, enquanto que para a maxila a paciente passou a usar um alinhador termoplástico como contenção ativa, onde foi aplicado um pequeno torque lingual de coroa e vestibular de raiz para o dente 12 (Figuras 4).

Imagens cedidas por Marcos Prieto.