Hiperplasia condilar: do diagnóstico ao tratamento
Karyna Valle-Corotti (à esq.) entrevista a argentina Andrea Bono, especialista no tratamento em disfunções da ATM. (Foto: Panóptica Multimídia)

Hiperplasia condilar: do diagnóstico ao tratamento

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Em entrevista conduzida por Karyna Valle-Corotti, a argentina Andrea Bono compartilha sua experiência na resolução de casos de hiperplasia condilar.

A hiperplasia condilar é caracterizada pelo crescimento excessivo do côndilo mandibular, geralmente unilateral, resultando em assimetria facial e distúrbios oclusais. Essa condição costuma ser observada em crianças em fase de crescimento, e o tratamento envolve desde o uso de placas oclusais específicas até cirurgia.

Nesta entrevista exclusiva conduzida por Karyna Valle-Corotti, doutora e mestra em Ortodontia pela FOB-USP, a argentina Andrea Bono compartilha sua experiência na resolução de casos de hiperplasia condilar. Andrea é especialista no tratamento de disfunções da ATM e professora titular na Faculdade de Odontologia da Universidade Nacional de La Plata (na Argentina). A seguir, ela fala sobre as possibilidades de terapia e as ferramentas necessárias para o correto diagnóstico desse problema.

Karyna Valle-Corotti – Como podemos caracterizar a hiperplasia condilar?

Andrea Bono – Os pacientes costumam apresentar entre 27% e 30% de assimetrias, que podem ter diferentes origens. Desse total, de 5% a 6% – dependendo da idade desse grupo de pacientes e se há crescimento terminado ou assimetria – podem apresentar hiperplasia condilar. Clinicamente, esse termo designa um desvio da mandíbula para o lado não afetado, com mordida invertida ao lado oposto da hiperplasia, sendo que em alguns casos também há presença de oclusão de Classe III. Em geral, percebe-se no rosto uma diferença de tamanho de um lado a outro, além de um desvio no queixo.

Karyna – Existe a assimetria que compromete a estética e a autoestima do paciente. Em qual idade observamos a presença da hiperplasia condilar que vai causar essa assimetria?

Andrea – A hiperplasia condilar refere-se a um crescimento anormal do côndilo. Em termos práticos, o paciente cresce até a puberdade ou dois anos a mais. Se nessa situação ocorre um quadro de hiperplasia condilar – e o côndilo começa a se desenvolver sem que haja crescimento corporal do paciente –, a mandíbula se desvia. Dessa forma, a hiperplasia condilar pode apresentar três etapas de tratamento. Uma das possibilidades é o momento em que o paciente está em crescimento e tem hiperplasia condilar porque tem um desenvolvimento diferente de um lado para o outro. A segunda situação é quando há o crescimento terminado do paciente, porém apresentando hiperplasia condilar mais em um lado do que em outro. No terceiro caso possível, a pessoa já não está mais em crescimento e o resultado da hiperplasia já ocorreu. Em suma, pode acontecer em qualquer idade, mas geralmente a hiperplasia se manifesta em pacientes com crescimento iniciado.

Karyna – Além dos diagnósticos clínico e radiográfico, qual é o outro método utilizado para definir essa diferença de crescimento dos côndilos?

Andrea – A radiografia panorâmica pode dar uma primeira observação da diferença de tamanho, mas não é o método ideal de diagnóstico para avaliar as articulações. O recurso indicado é a miografia, ou seja, a imagem que mostra o côndilo com boca fechada e aberta. No entanto, o diagnóstico conclusivo é o Spect, que permite avaliar se há maior atividade osteoblástica, reparação de tecido ou maior crescimento. Em resumo, o diagnóstico conclusivo se faz com este estudo, que indicamos ao paciente em momento oportuno para ver a quantidade de crescimento nos cortes transversal e vertical, informando com números a atividade do lado direito em relação ao lado esquerdo.

Karyna – É possível fazer esse exame mais de uma vez no mesmo paciente? Qual é o intervalo indicado para realizá-lo?

Andrea – Isso varia. Há grupos que, ao obter o Spect positivo, optam por indicar diretamente a cirurgia. Outros grupos pedem para realizar um segundo ou até terceiro Spect para depois realizar a intervenção cirúrgica. No caso de pacientes que serão acompanhados para tratamento na tentativa de evitar a cirurgia, ou que sejam submetidos à cirurgia com pouca intervenção, é possível repetir o exame um ano depois.

Karyna – Além da cirurgia, quais são as outras opções de terapia para essa anomalia?

Andrea – No paciente com hiperplasia, esse côndilo está permanentemente pressionando contra a cavidade glenoide. Dessa maneira, e também motivado pela hipervascularização, existe contato entre os dois ossos, o que leva esse côndilo a se desenvolver. Se descomprimirmos essa articulação, a fim de não permitir que esses dois ossos se contatem permanentemente, pode existir uma diminuição no crescimento condilar – isso comparando com um Spect realizado aos dez ou 12 meses, para que esse paciente tenha suas funções musculares igualmente mais balanceadas do que no início. Se, eventualmente, esse paciente precisar de cirurgia, todo esse conjunto de ações terá ajudado para que ele alcance as melhores funções possíveis. Então existe a possibilidade de tratamento de descompressão articular para manter a mandíbula mais centrada.

Karyna – Nesses casos, as placas oclusais também são bem indicadas?

Andrea – Sim, desde que tenham o parâmetro da musculatura. São placas produzidas previamente com um relaxamento muscular, por meio de um aparelho eletrônico que funciona como desprogramador muscular, no qual é registrada a mordida na posição correta. Esse dispositivo oclusal é feito com base nos planos musculares do paciente e deve ser usado 24 horas por dia. Isso porque não se deve realizar unicamente a correção noturna, é preciso fazer a correção durante todo o dia e em todas as suas funções: falando, mastigando, comendo etc. A retirada deve ser somente higiênica.

Karyna – Durante a infância e a fase de desenvolvimento, existe algum tratamento precoce que pode prevenir a hiperplasia?

Andrea – A hiperplasia em si, não. Porque ela começa a se desenvolver quando o crescimento iniciou. Mas é verdade que, durante as etapas de crescimento, se o paciente apresenta uma assimetria, consequência de mordida cruzada funcional não tratada, pode haver uma diferença do tamanho condilar. Também é visto que a correção desta mordida funcional cruzada permite um melhor desenvolvimento condilar e simetria do paciente.

Karyna – Quando deve ser iniciada a abordagem ortodôntica corretiva no paciente?

Andrea – Quando o paciente apresenta Spect positivo, eu instalo um dispositivo oclusal e, em seguida, essa hiperplasia fica negativada ou, pelo menos, baixa. Então, volto a repetir o exame em cinco ou seis meses. No paciente que está com a hiperplasia ativa, a linha média e o queixo continuam se deslocando, a mordida cruzada continua aumentando e a face continua se deformando. Então, ao alcançar a estabilidade clínica de um ano a um ano e meio, e os valores do Spect estão negativados ou baixos, há condições de começar a Ortodontia. Já tive casos em que iniciei a Ortodontia e, durante essa etapa, o Spect deu positivo novamente, por isso eu tive que partir para a cirurgia. Mas, em quais condições se chegou à cirurgia? Nas condições estruturais, musculares e funcionais muito melhores do que no início. Então, preparar a boca do paciente para uma condilectomia alta de pescoço do côndilo é melhor do que deixar o paciente terminar de se deformar.

Karyna – Qual mensagem você deixaria para o ortodontista e para o aluno de graduação a respeito do diagnóstico e da abordagem da hiperplasia condilar?

Andrea – O tema é muito amplo e inclui todos os problemas da articulação temporomandibular que podem ser abordados. Tanto o clínico quanto o estudante precisam buscar conhecimentos mais profundos sobre Anatomia, Fisiologia e Patologia para reconhecer problemas como esse. Gosto da frase de Immanuel Kant, que diz: “Quem não sabe o que busca, não identifica o que acha”.