Uso precoce de mini-implantes extra-alveolares no tratamento da Classe III

Uso precoce de mini-implantes extra-alveolares no tratamento da Classe III

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Os mini-implantes extra-alveolares podem ser usados em crianças? Marcio Almeida responde a questão e apresenta caso clínico com a possibilidade. 

Quando me perguntam se mini-implantes extra-alveolares podem ser usados em crianças, minha reposta é: sem dúvida, pode. Mas, em quais casos seria oportuno usá-los? Para começar, esclareço que há um bom tempo não uso máscara facial para protração de maxila em crianças com Classe III. A ancoragem esquelética permite alcançar resultados incríveis, tanto para pacientes adultos quanto crianças. Não existe absolutamente nada de errado em usar máscara facial e a literatura é exuberante em deflagrar resultados excelentes advindos de aparelhos expansores e máscaras faciais em pacientes Classe III com deficiência de maxila. Porém, diversos estudos já mostraram que as maiores alterações são dentoalveolares. Então, é possível escolher uma combinação biomecânica de miniparafusos, aparelho 4 x 2 e elásticos intermaxilares para realizar a compensação na correção da Classe III (Figuras 1 e 2).

Figuras 1 e 2 – Paciente com nove anos de idade na fase de dentadura mista apresentava mordida cruzada anterior, pseudoclasse III e nítida compensação dos dentes anteriores. Uma combinação biomecânica de miniparafusos em IZC e inter-radicular, aparelho 4 x 2 e elásticos intermaxilares foi utilizada para a compensação na correção da Classe III, que aconteceu em quatro meses.

Classicamente, uma das formas de tratamento precoce da Classe III é com o uso de aparelhos ortopédicos (máscara facial, Frankel III, mentoneira). O tratamento compensatório da Classe III precoce consiste, primariamente, em projetar os incisivos superiores para vestibular e os inferiores para lingual, uma vez que o movimento ortopédico das bases ósseas é muito pequeno. Os parafusos infrazigomáticos associados a elásticos intermaxilares apoiados no arco inferior podem ser benéficos em algumas situações.

O caso clínico (Figuras 3 a 31) demonstra na íntegra a possibilidade de utilizar essa mecânica interarcos fixa de 4 x 2 associada à ancoragem esquelética extra-alveolar e inter-radicular. O paciente de nove anos de idade apresentava mordida cruzada anterior e Classe III, além de nítida compensação dos dentes anteriores com apinhamento superior. A estratégia adotada foi a instalação de aparelho 4 x 2 – excelente para alinhamento e nivelamento dentário na fase de dentadura mista. Também, foram instalados dois parafusos em crista infrazigomática e dois parafusos inter-radiculares entre os incisivos centrais e laterais (Figuras 14 a 16).

Figuras 3 a 13 – Paciente com nove anos de idade na fase de dentadura mista apresentava mordida cruzada anterior e Classe III, além de nítida compensação dos dentes anteriores com apinhamento superior.

Figuras 14 a 16 – Mecânica de correção de Classe III precoce, com a instalação de aparelho 4 x 2 e arcos Cu-NiTi .016” associados a dois parafusos em crista infrazigomática (1,5 mm x 10 mm) e dois parafusos inter-radiculares (1,5 mm x 6 mm) entre os incisivos centrais e laterais. A biomecânica de forças foi realizada com dois elásticos ¼” de Classe III perfazendo 150 g de cada lado, partindo do parafuso em IZC e adaptando-se em um arco base de TMA .017” x .025” passivo sobre os incisivos inferiores, com extensão até caninos e resultante de forças passando atrás e na altura do centro de resistência dos incisivos. Para que a força fosse distribuída de maneira mais uniforme sobre os dentes anteriores inferiores e com melhor controle dos efeitos colaterais, instalou-se dois parafusos entre os incisivos. Deste modo, a força do elástico atuará para que a maxila se desloque anteriormente, enquanto a compensação dos incisivos inferiores ocorrerá por meio da força de lingualização.

Figuras 17 a 19 – Mecânica de compensação após dois meses do início do tratamento. Note o rápido descruzamento da mordida e o alinhamento e nivelamento dos incisivos. Os parafusos inferiores foram removidos após a obtenção de overjet positivo, assim como a mecânica com elásticos e a sequência de arcos seguida pelo arco Cu-NiTi .014” x .025”.

Figuras 20 a 26 – Quatro meses de tratamento, quando a análise do perfil facial mostrou uma melhora significativa do ponto de vista lateral.

Figuras 27 a 31 – Observa-se uma relação interarcos de Classe II, que para um paciente com Classe III é interessante. A mecânica de arcos evoluiu ao arco Cu-NiTi .014” x .025”. É necessário um acompanhamento longitudinal do caso durante a troca de todos os dentes permanentes.

A biomecânica de forças foi realizada com dois elásticos ¼” de Classe III, partindo do parafuso em IZC e adaptando-se em um arco base de TMA .017” x .025” passivo sobre os incisivos inferiores, com extensão até caninos e resultante de forças passando atrás e na altura do centro de resistência dos incisivos. Para que a força fosse distribuída de maneira mais uniforme sobre os dentes anteriores inferiores e com melhor controle dos efeitos colaterais, foram colocados dois parafusos entre os incisivos. Deste modo, a força do elástico atuará para que a maxila se desloque anteriormente, enquanto a compensação dos incisivos inferiores ocorrerá por meio da força de lingualização. As Figuras 17 a 19 ilustram o transcorrer da mecânica de compensação após dois meses do início. Note o descruzamento da mordida e o alinhamento e nivelamento dos incisivos.

As Figuras 20 a 26 demonstram quatro meses de tratamento, quando a análise do perfil facial mostrou uma melhora significativa do ponto de vista lateral. Observa-se uma relação interarcos de Classe II, que é interessante para um paciente com Classe III. Obviamente, é necessário um acompanhamento longitudinal do caso.

É isso: é importante abrir a mente para novas ideias e não ter medo de realizar ou observar processos feitos de formas diferentes. Às vezes, é questão de perspectiva.